Sabe quando você sente que pode ser melhor, mas não sabe como? Você tenta ser o mais perfeita possível, mas nunca é o suficiente e acaba se frustrando por estar desperdiçando seu potencial. No entanto, é você mesmo quem está se atrapalhando — porque, no fundo, sabe que, para se tornar aquilo que você quer ser, precisa destruir tudo o que você é.
A única pessoa no seu caminho é você mesma.
Na maioria das vezes, somos nossos maiores inimigos. Criamos padrões tão altos que se tornam impossíveis de alcançar, e a busca incessante por essa perfeição acaba nos levando à autodestruição. Em Cisne Negro (2010), Nina busca obsessivamente a excelência no balé, mas seu maior obstáculo não são os outros dançarinos, nem seu diretor, ou a sua mãe controladora. É ela mesma. Suas inseguranças e repressões criam barreiras que a impedem de atingir o que deseja.
É como se houvesse uma versão perfeita de você na sua mente; você compete com ela, ela é tudo o que você quer ser, só que você não é. Ela está sempre a um passo à frente e, por mais que você corra, nunca consegue alcançá-la, e começa a se odiar por isso. É como esperar que você finalmente esteja pronta, mas esse momento nunca chega, e isso leva a uma frustração irremediável.
A verdade é que essa versão ideal não é real. Ela é um reflexo de tudo o que você quer ser, mas também de uma cobrança implacável que nunca te deixa respirar.
Perfeição não é apenas controle, é também se libertar.
É quase uma prisão: o sentimento de ter que ser perfeito em tudo. Isso faz com que nada pareça bom o suficiente, e essa obsessão acaba nos paralisando. Às vezes, o medo de não ser bom o bastante nos impede até mesmo de tentar. É difícil deixar a cobrança de lado quando estamos tão acostumados a exigir o máximo de nós mesmos, mas seja pela pressão externa ou interna, essa exigência pode nos adoecer.
A perfeição cobra seu preço. No filme, Nina alcança a perfeição em sua performance como o Cisne Negro, mas, no processo, se perde. Sua obsessão por ser impecável a destrói completamente.
No fim, o que mais assusta nesse processo, além do medo de talvez não conseguir alcançar a versão perfeita idealizada, é o quanto precisa perder para chegar lá. Para ser perfeito, é preciso abrir mão de quem você é, e, ao fazer isso, você pode se perder no processo.
Esqueça o autocontrole, quero ver paixão.
Cisne negro (2010)
Obrigada por ler, até logo.
Vou compartilhar duas coisas aqui: 1 - quando eu vi esse filme pela primeira vez com 12 anos (sem supervisão claramente) eu coloquei na minha cabeça que eu queria sentir essa perfeição que a Nina sente no final do último ato dela/2 - Eu melhorei minha escrita e exercito muito mais a minha criatividade baseadas na frase do professor dela, o Thomas, “lose yourself”.
Esse filme é mt um marco na cabeça de pessoas criativas e meio loucas.
Texto lindíssimo.
Eu não vou negar, parte de mim "gosta" desse defeito pq é o que me faz querer avançar, como se eu tivesse a falsa sensação de que esse perfeccionismo é uma droga que eu uso de forma moderada e que posso parar o uso a qualquer momento, des de que eu chegue lá todo risco é válido, mas sem perceber só estou me afundando em comparações cada vez mais injustas e distorcidas da minha própria realidade